Crónicas de Uma Mãe em Horário Duplo



Episódio 4: “Reflexões Profundas no Repor de Camisolas”

Arrumar roupa parece um ato banal, certo? Errado. É quase uma meditação forçada — uma pausa no meio do turbilhão do dia em que a mente vagueia e, sem pedir licença, começa a filosofar.

Cena 1: O ciclo infinito
Tiro uma camisola dobro, repito. Dobro, dobro, dobro.
Parece que as camisolas se multiplicam sozinhas. Será que têm vida própria? Estarão a conspirar contra mim?
Enquanto dobro, penso naquelas coisas que adoramos e que acabam a acumular nas prateleiras, esquecidas, como ideias que nunca saem do papel.

Cena 2: Sobre o tempo e as prioridades
Dobrar t-shirts ensina uma lição brutal: há coisas que podemos controlar (o alinhamento perfeito das mangas), e há outras que simplesmente escapam (o cliente que aparece do nada a pedir ajuda).
Será que estamos a investir o nosso tempo nas coisas certas? Ou só estamos a dobrar roupa enquanto o mundo lá fora arde de urgência?

Cena 3: A tempestade silenciosa
O silêncio da loja é cortado pelo barulho das roupas a serem manuseadas, clientes a passarem, murmúrios de decisão sobre “levo este casaco ou não”.
No meio disso, a mente vai para longe: para os sonhos deixados para trás, para os planos que ficaram no papel, para a vontade de mais tempo para nós.

Cena 4: A simplicidade do momento
Mas há também beleza no simples.
No momento presente.
Na camisola bem dobrada, alinhada.
Na respiração entre um cliente e outro.
Na esperança de que amanhã, ao dobrar mais camisolas, consigamos também dobrar um bocadinho mais de paz interior.

Reflexão final, 22h45:
Às vezes, a vida é mesmo isto: um constante recomeço.
Dobrar camisolas é um pouco como arrumar a cabeça — um passo de cada vez, sem pressa, tentando encontrar ordem no caos.

Moral do episódio:
Nas pequenas tarefas do dia a dia, encontramos reflexões grandes o suficiente para encher uma vida inteira.
Até na dobra de camisolas.

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