Escrever #26


Juntei-me novamente à Joana que reclamou logo a minha demora. Não lhe contei nada do que tinha acabado de acontecer, tínhamos tempo de falar sobre o assunto até porque sabia que ela não se ia calar e eu queria curtir o concerto.

As pessoas começaram a sentar-se nos lugares ainda vagos e a juntarem-se mais perto do local onde o “corredor” ia tocar. Finalmente ele apareceu com a sua viola e começou. Trocamos olhares várias vezes e dancei muito ao som da sua música fantástica.

Já era tarde, quando o Paulo finalmente chegou à nossa mesa e perguntou se se podia sentar, respondemos claramente que sim e a Joana agradeceu também a garrafa de vinho. Olhei para ele, e achei-o ainda mais bonito depois de conhecer este lado de artista, surfista, Peace and love, além do seu lado “corredor”.

— O concerto foi fantástico, parabéns, gostei imenso. — Disse a Joana.

— Obrigado, e obrigado por terem ficado. Foi apenas algo pequeno para entreter alguns amigos. E tu? — Pergunta-me. — Gostas-te?

— Sim, também gostei muito, parabéns. — Disse envergonhada.

— Bem está tarde, vamos Laura? — Disse a Joana a levantar-se e colocar a mala ao ombro.

Sinto o olhar dele, quase a suplicar para ficar, olhei para a Joana que depois do dia que teve não a queria deixar sozinha…

— Sim Joana vamos, está tarde, e amanhã tenho uma reunião cedo — Disse a olhar o relógio.

— Posso ficar com o teu número? — Perguntou o “corredor”, estendendo o telemóvel dele para eu digitar.

— Sim claro. Depois combinamos algo com mais tempo. Mais uma vez obrigada.

Ele levantou-se para se despedir e ficamos novamente frente a frente, dêmos um abraço demorado.

Já no carro, a caminho de casa, começa o interrogatório da Joana, claro.

— Laura, o que foi aquilo? Até eu senti a tensão, ou tesão ou lá o que foi aquilo!

— Estás a falar de quê? Tem juízo, estou com o Fred, poupa os teus comentários Joana. — Eu queria acreditar mesmo nas palavras que estava a dizer, mas realmente também senti… o que foi que senti? Não faço ideia, mas senti algo!

Estava a preparar-me para me deitar quando recebi uma mensagem:

“Uma pena não teres ficado. Bj Paulo”

“Sim, foi pena… haverá de certeza outras oportunidades, mas não podia deixar a Joana sozinha”  — Respondi.

“Já conheces o 12º andar do teu prédio?”

Não percebi a mensagem, e como sabia ele que o meu prédio tinha 12 andares!

“Como é que sabes que o meu prédio tem 12 andares?”

“Estou à tua porta… Queres descer?”

“Estás a seguir-me?”  — Perguntei preocupada, não o conheço assim tão bem para aceitar que um estranho me siga até casa.

“Laura, apenas acho que devíamos acabar a nossa noite de outra forma. Não me conformo com o desfecho. E não, não te estou a seguir!”

“Vou abrir, encontramo-nos lá”

Estava realmente preocupada, e queria tirar a limpo, como raio descobriu ele onde eu moro!

Tirei o pijama, e vesti algo mais composto.

Puxei o elevador e quando as portas abriram, lá estava ele, o “corredor” com um sorriso de orelha a orelha. Entrei no elevador e ele segurou-me a mão. Subimos então até ao topo do prédio. Abriu a porta e segurou-a para eu conseguir passar. Era uma área de lazer, só que abandonada, ninguém usava aquela zona a não ser quando havia reuniões de condomínio. Nunca tinha subido lá acima. Sentamo-nos no muro e conversamos durante o resto da noite sobre tanta coisa que nem demos pelas horas passarem. A vista era linda, a nossa cidade era realmente linda.

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