Escrever #11


Parei o carro perto da praia. Tirei os sapatos e desci em direção ao mar para molhar os pés. Que bem que sabe, mesmo estando gelada. Recuei e sentei-me ali mesmo. Enterrei os pés na areia para os aquecer. Deitei-me a olhar o céu, cinzento mas sem chuva. Adoro o som do mar. Morei em Lisboa mesmo num bairro típico do centro, onde no início do verão cheirava sempre a sardinha assada e as noites eram de alegria. Em pequena, lembro-me de fazer praia na linha com a minha mãe e as amigas dela. Só na altura da faculdade, quando conheci a Joana, é que decidi mudar para a linha. Estico os braços na areia húmida, de repente sinto-me só. Eu adoro estar sozinha, mas sabes quando parece que caímos na realidade nua e crua e ficamos triste com tudo. Que não estamos bem com nada. Que não vingaram na vida, que não temos ninguém a quem regressar ao final do dia. É o que dá beber vinho e não acabar a garrafa, pensei na altura. Olhei o relógio, coloquei um sorriso e forcei-me a pensar positivo e de que tudo iria ficar bem, decidi regressar. Tinha ainda algum tempo para me arranjar.

“Estou à tua espera.” recebi no telemóvel. Tinha adormecido no sofá a ver uma série, enquanto esperava pela hora. “A descer, dá-me 1 seg.” dei uns retoques finais e desci. Fui assim mesmo. Corri até à rua.
- Allo, como estás? - perguntei, entrando no carro.
Estou bem, e tu? - perguntou-me também, com um abraço apertado e um beijo na cara.
Melhor agora, adormeci, mas agora estou óptima. Onde vamos? Sempre vamos tomar vinho? - perguntei curiosa - Caia bem depois do dia que tive.
Queres falar sobre isso?
Nem por isso. Talvez depois de alguns copos!
Não vamos longe, conheço o sítio perfeito.
Boa, vamos então?
Entrámos numa garagem. Subimos de elevador até ao último andar.
Força, primeiro as senhoras! - fez-me sinal e entrou logo de seguida quase encostado a mim. Conseguia sentir-lhe a respiração - Bem-vinda - sussurrou-me ao ouvido.
Atrapalhada tentei fugir da situação.
- Onde estamos? É o teu apartamento? O da vista?
- Sim, vem aqui! - Pegou na minha mão e levou-me em direção à varanda.
Enquanto tudo acontecia, eu examinei cada cantinho, cada pormenor por onde passamos. Era um apartamento simples, mas tudo milimetricamente arrumado. Parecia que tinha acabado de entrar num apartamento daqueles que só vemos em revista.
Fred, que vista maravilhosa, isto é lindo - enquanto espreitei todos os ângulos com um sorriso no rosto - Tu tens noção disso, certo?
- Humm humm…
Sei que não era comum ele receber pessoas, tínhamos falado sobre o assunto no dia do almoço. Há muito tempo que não estava com ninguém. Anos. Para ter vontade de me trazer ali, estaria certo do que sentia, apesar de nos conhecermos há tão pouco tempo. Será?! Fiquei ainda mais nervosa.
Vou lá dentro buscar o vinho.
Okay, vou contigo?!
- Deixa-te estar. Estás bem onde estás. Aprecia!! - piscou-me o olho.
Sentei-me numa das cadeiras que ali estavam e tapei-me com uma das mantas. Ele serviu o vinho na cozinha, e quando regressava para me dar um dos copos, tropeçou e entornou tudo sobre o meu vestido.
Oh meu deus, que desastrado, desculpa! Começo bem!
Não faz mal, acontece.
Eu até já andava desconfiado, como é que ainda não tinha feito disparates.
Fred, por favor, relaxa, está tudo bem, é apenas vinho, não vou morrer afogada!! Diz-me só onde fica a casa-de-banho para eu tirar já a mancha, senão vai ficar marcado. Mas tenho de te dizer uma coisa - tentei ficar séria - Que desperdício de vinho - rimo-nos.
Eu levo-te, dou-te umas roupas limpas, enquanto pomos essas a lavar e secar.
Não é preciso, eu depois lavo em casa, não há necessidade de perder tempo com isso, não te quero dar trabalho.
Por favor, é o mínimo que posso fazer depois do disparate. Para além de que o temos mais é tempo.
Okay, okay, pronto se ficas feliz.

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