Episódio 1: “Da Colónia à Cabideira — um dia em 17 mil passos”
São 7 da manhã e já estou atrasada.
O despertador tocou, mas só o ouvi na parte do cérebro onde os sonhos são editados. Acordo num salto olímpico: hoje é dia de colónia de férias. Mochila feita na véspera? Claro que não. A lancheira ainda está a pensar no que vai ser quando crescer.
Enfio meio pão na boca da minha filha, penteio-lhe o cabelo com mais esperança do que técnica e seguimos viagem. Ela entra feliz na colónia. Eu saio de lá com o ar de quem correu uma maratona emocional antes das 8h.
Tenho seis horas até entrar na Primark. Um luxo? Nem por isso. Lavo roupa, almoço de pé, estendo uma toalha com raiva e tento, sem sucesso, fechar os olhos por cinco minutos (o cérebro recusa).
Às 14h30, já estou fardada e mentalizada. O turno vai até às 23h30, mas na prática são 8 horas de apneia em pé. Cabides, clientes, promoções, provadores — tudo ao ritmos não me importava.
Às 20h, começo a ter alucinações com cadeiras. Às 23h30, fecho a loja com os pés dormentes e o cérebro em modo “tela azul”. Chego a casa à meia-noite e sento-me finalmente. Não falo. Não penso. Só existo.
E é nesse silêncio que percebo: sobrevivi a mais um dia. Não com glamour. Mas com garra. E amanhã? Repito tudo. Porque as mães não têm botão de pausa. Só o “play”, todos os dias.
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