Ao fim de alguns minutos, regressei à sala. Ele continuava na varanda a tomar vinho e a apreciar a vista do qual nunca se cansava.
- Desculpa Fred, aproveitei para tomar um duche, só me vinha o cheiro de vinho e acabei por demorar.
Tinha vestido os calções de algodão cinza e a t-shirt branca que ele me tinha deixado em cima da cama.
- Não tudo bem, fizeste bem… Estás confortável?
- Melhor, sim, obrigada. Só me falta o vinho!
Ele sorriu, encheu outro copo e desta vez conseguiu dar-mo sem acidentes.
- Merda, como és linda!!
- Desculpa?
- Hmm? Desculpa? hmm? Não? Pensei em voz alta?? - disse atrapalhado.
- Hmm... hmm… - confirmo.
- Desculpa. Mas é verdade. És linda!! Já te disseram de certeza! Estou só a ser cliché!
- Bem, sim, já o disseram, mas a frase acaba sempre de outra forma. Não é que eu ligue, não me interessa minimamente o que os outros pensam. Mas acaba sempre com referência ao meu peso. Mas obrigado!!
- Sobre o teu peso? O que tem? Estás óptima!
- Sei, estou um pouco fora de forma, eu percebo, e não precisas ser simpático em relação a isso. Sinto-me bem, é o que me interessa, mas já chateia as frases “és linda, MAS… se perdesses peso ficavas ainda melhor” é desgastante.
- Acho que fazes muito bem, bloquear os comentários menos agradáveis. Mas não é essa a minha intenção. Não me interpretes mal.
Afastei-me e mais uma vez mudo de assunto.
- Como estão a correr as montagens na Barbearia?
- Está tudo a correr bem, como previsto. Tudo nos timings certos.
- Óptimo. Espero o convite de abertura.
- Laura, por favor. Não precisas… o espaço também é teu. Podes ir quando quiseres - disse enquanto caminhava na minha direcção!
- Fred, pára!! Assim não te consigo levar a sério.
- Desculpa, não consigo evitar… é mais forte que eu!! E ver-te nessa t-shirt, está a deixar-me maluco. Desculpa.
- Percebo! Mas, não estou à procura de ninguém de momento. Tenho imenso trabalho, imensas coisas em que pensar e pouco tempo para "isto".
Ele tentou novamente aproximar-se.
- É assim tão difícil de aceitares que alguém se possa interessar por ti?
- Não... mas...
Ele passou por trás de mim e senti-o cheirar-me.
- Ninguém falou em relações. Há quanto tempo?
- Uns 3, 4 anos.
- Vem comigo - pegou-me novamente na mão.
Percorremos a casa, entramos no quarto e fomos à janela que dá para o outro lado do prédio…
- Consegues ver? - perguntou-me.
- O que?? - disse perdida.
- Ali… - apontou - a tua torre… daqui conseguimos ver a tua torre!!
- Ah, é verdade. Realmente tens uma vista 360. De manhã quase conseguimos acenar um ao outro - disse divertida.
Ele aproximou-se por trás, abraçou-me pela cintura e sussurrou-me ao ouvido:
- Porque não?! - voltou a questionar-me.
O cheiro. Afastei-me devagar, virei-me. Ficámos frente a frente. Senti-lhe a respiração a percorrer-me a face, até os nossos olhos se encontrarem.
- O teu cheiro - consegui dizer.
- O que? - disse atrapalhado, cheirando os sovacos - cheiro mal? Não me digas?
- Não… Parvo… adoro o teu cheiro… - disse às gargalhadas. - Adoro quando me olhas nos olhos.
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