Começou a barafunda dos lugares, onde se senta quem… o pai mandou para o ar, a mãe deu ordens e até o tio Eduardo, deu a sua opinião.
O almoço estava ótimo, como sempre. O meu pai era um ótimo cozinheiro. Já na sobremesa, uma baba de camelo feita pela Xica no famoso robot de cozinha que ela sempre gabava. O meu irmão levantou-se e largou a bomba.
- A sério… Estás a gozar meu??!? - levantei-me histérica.
- Sim, não, sim… vais ser tia! - disse ele envergonhado.
- Opah parabéns a sério. Estou muito feliz por vocês. - disse a abraçar os dois. - É sentido, estou mesmo feliz por eles e por futuramente ser tia.
Estão todos ao rubro pela primeira criança da família. Sentia-me a ficar para trás e com isto já sabia que iam começar os comentários sobre a minha vida amorosa. Mas cá estamos para os receber.
Enquanto todos celebravam e relembravam traquinices do meu irmão quando era pequeno, fuji até ao meu antigo quarto. Estava já tudo mudado, as mobílias eram as mesmas, mas contavam outra história que não era a minha. Completamente dominado pela colecção de bonecos da minha mãe. Ainda assim, havia ainda sinais meus, algumas fotos, alguns livros e no meio dos livros, ali perdido está um dos meus diários. Comecei a ter diários desde muito pequena, e o tema eram sempre os mesmos, o amor, o amor que sentia por outras pessoas. O ciúme. As paixões foram muitas e desde muito cedo. Sempre por pessoas mais velhas. A maioria delas, nunca deram em nada, e alguns rapazes sobre quem escrevia, não souberam da minha existência, quanto mais o meu amor por eles.
Regressei à sala e já só esperava que aquilo acabasse depressa. Fiquei com vontade de ir até à praia, dar uma caminhada, mas queria lá chegar ainda com a luz do dia, para não apanhar o frio do final de tarde.
Entretanto, vi uma abertura para fugir dali.
- Bem mãe vou andando, tenho ainda muita coisa para fazer em casa, tenho de ligar para alguns fornecedores, por causa de um projecto.
- Mas é sábado, vais trabalhar ao sábado? - reparou na cara que fiz - Ok minha querida, espero que tenhas gostado do almoço, já sabes que a mãe e o pai nunca sabem o que cozinhar para ti.
- Estava tudo ok, não te preocupes. Beijinho, gosto muito de ti. Xau pai, gosto muito de ti. - abraçei os dois e despedi-me do resto da família.
Entrei no carro, tirei o telemóvel para colocar a carregar na viagem e vi o sinal de mensagem recebida. “Podemos repetir! Desta vez com vinho! Às 22h!? Se estiveres disponível? A pensar em ti também. Bj Fred”. Sorri, é bom saber que alguém pensa em nós. Sem pensar muito respondo “Apanhas-me em casa?”, “Combinado” respondeu ele logo de seguida. Senti-me mesmo especial. Tinha realmente alguém a pensar em mim? Ou seria outra coisa qualquer?! Eu sentia a química entre nós, mas estaria eu a ser precipitada. Decidi arriscar.
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