Escrever #10

Começou a barafunda dos lugares, onde se senta quem… o pai mandou para o ar, a mãe deu ordens e até o tio Eduardo, deu a sua opinião.

O almoço estava ótimo, como sempre. O meu pai era um ótimo cozinheiro. Já na sobremesa, uma baba de camelo feita pela Xica no famoso robot de cozinha que ela sempre gabava. O meu irmão levantou-se e largou a bomba.
A sério… Estás a gozar meu??!? - levantei-me histérica.
Sim, não, sim… vais ser tia! - disse ele envergonhado.
Opah parabéns a sério. Estou muito feliz por vocês. - disse a abraçar os dois. - É sentido, estou mesmo feliz por eles e por futuramente ser tia. 
Estão todos ao rubro pela primeira criança da família. Sentia-me a ficar para trás e com isto já sabia que iam começar os comentários sobre a minha vida amorosa. Mas cá estamos para os receber.

Enquanto todos celebravam e relembravam traquinices do meu irmão quando era pequeno, fuji até ao meu antigo quarto. Estava já tudo mudado, as mobílias eram as mesmas, mas contavam outra história que não era a minha. Completamente dominado pela colecção de bonecos da minha mãe. Ainda assim, havia ainda sinais meus, algumas fotos, alguns livros e no meio dos livros, ali perdido está um dos meus diários. Comecei a ter diários desde muito pequena, e o tema eram sempre os mesmos, o amor, o amor que sentia por outras pessoas. O ciúme. As paixões foram muitas e desde muito cedo. Sempre por pessoas mais velhas. A maioria delas, nunca deram em nada, e alguns rapazes sobre quem escrevia, não souberam da minha existência, quanto mais o meu amor por eles.

Regressei à sala e já só esperava que aquilo acabasse depressa. Fiquei com vontade de ir até à praia, dar uma caminhada, mas queria lá chegar ainda com a luz do dia, para não apanhar o frio do final de tarde.
Entretanto, vi uma abertura para fugir dali.
Bem mãe vou andando, tenho ainda muita coisa para fazer em casa, tenho de ligar para alguns fornecedores, por causa de um projecto.
Mas é sábado, vais trabalhar ao sábado? - reparou na cara que fiz - Ok minha querida, espero que tenhas gostado do almoço, já sabes que a mãe e o pai nunca sabem o que cozinhar para ti.
Estava tudo ok, não te preocupes. Beijinho, gosto muito de ti. Xau pai, gosto muito de ti. - abraçei os dois e despedi-me do resto da família.

Entrei no carro, tirei o telemóvel para colocar a carregar na viagem e vi o sinal de mensagem recebida. “Podemos repetir! Desta vez com vinho! Às 22h!? Se estiveres disponível? A pensar em ti também. Bj Fred”. Sorri, é bom saber que alguém pensa em nós. Sem pensar muito respondo “Apanhas-me em casa?”“Combinado” respondeu ele logo de seguida. Senti-me mesmo especial. Tinha realmente alguém a pensar em mim? Ou seria outra coisa qualquer?! Eu sentia a química entre nós, mas estaria eu a ser precipitada. Decidi arriscar.

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