Episódio 3: “Clientes Bizarros e Outros Seres Mitológicos”
Trabalhar numa loja é uma experiência antropológica. Um estudo profundo do comportamento humano… com saldo.
Começa normalmente. Eu a sorrir, as calças dobradas, a loja ainda cheira a ar-condicionado fresco. Mas aos poucos, eles aparecem: os clientes bizarros. Aqueles que nos fazem questionar se estamos mesmo acordadas ou presas numa simulação maluca.
O cliente ninja
Aparece do nada. Vê-se pelo canto do olho, mas nunca se ouve. Quando damos por isso, está atrás de nós a dizer “tem isto em XL?” com um tom que mistura urgência com ameaça passivo-agressiva. Não sei como entram.
A cliente dramática
“Não tem este vestido em rosa velho areia esverdeado pálido?”
Digo que não. Ela suspira como se tivesse perdido um ente querido.
“Mas é que eu PRECISAVA MESMO disto!”
Precisa, amiga? De verdade? Da versão bege do rosa velho? Mando energias positivas.
A mãe distraída
A criança desapareceu entre os cabides. A mãe continua a experimentar tops como se estivesse sozinha no spa.
— “Filipaaaa? FILIPAAAAA!”
Dois minutos depois, a Filipa surge, com um chapéu tamanho adulto e três pares de meias na mão.
Eu? Só observo. Isto já é novela.
O provador de guerra
Tem quem use o provador para experimentar roupa… e tem quem monte acampamento.
Entram com 23 peças, saem 40 minutos depois, deixam um monte de roupas em forma de Everest.
“Gostou de alguma?”
“Não.”
Respiramos fundo. Contamos até 30. Continuamos vivas.
O cliente-fantasma
Fala baixo, aparece tarde, quer desconto onde não há.
“Não tem aí uns calções por cinco cêntimos?”
Amigo… nem o ar tá a esse preço.
Reflexão das 23h35:
Depois de 8 horas em pé, com três cafés e zero paciência, percebo que há um tipo de resistência mental que só se desenvolve no retalho.
Não é apenas vender.
É sobreviver.
É lidar com o absurdo com elegância, mesmo quando temos um soutien na orelha e uma senhora nos pede um biquíni… em dezembro.
Moral da história:
A loja fecha, os cabides descansam. Mas as histórias ficam. Cada cliente estranho é um episódio novo. Uma personagem. Um sketch vivo. Um lembrete de que o mundo real é mais engraçado do que qualquer sitcom.
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