
Assim que entro em casa, tenho a Joana em lágrimas.
— Joana? O que aconteceu?
— Fui despedida!
— O quê? Como? Porque? Calma, respira fundo e conta-me tudo.
— Opah, dizem que o departamento de marketing está demasiado cheio e que não precisam de tanta gente e como fui a mais recente decidiram dispensar-me a mim… achas isto normal… tantos trabalhos que desenvolvi ali e ao final de quase 4 anos deixam-me ir assim! O que é que eu vou fazer agora, Laura?!
— Bem, podes sempre ficar freelancer como eu… mas aviso-te que não é fácil. Quer dizer tu sabes, viste o quanto eu penei até conseguir clientes um pouco mais regulares para pelo menos me garantir um ordenado todos os meses, depois o que vier a mais é bónus, mas tens de procurar, tens de te mexer, tens de te erguer e não deixares esses bandidos levarem a melhor!
— Tens razão, há sempre solução, só não me posso encostar, senão perco o embalo. — Disse a limpar as lágrimas.
— Vá, vai lavar a cara e vai pôr-te bonita que hoje eu pago o jantar!
— Estás a falar a sério?
— Claro, recebi dinheiro de uns trabalhos e hoje apetece-me sair, jantar fora. Estou bem-disposta, aproveita. Depois podemos ir até a uma esplanada ouvir um pouco de música ao vivo, tenho tantas saudades de sair para dançar. Vá, vai lá, vou também tomar um duche que vim agora da caminhada e está tanto calor que acho que derreti alguma da minha gordura.
— Adoro-te Laura, ainda bem que te tenho na minha vida! — Abraçámo-nos durante uns segundos e fomos cada uma para o seu lado.
Decidimos ir a um restaurante vegetariano em Lisboa, quer dizer, sou eu a pagar ao menos que fosse por algo que me fosse deliciar. O restaurante tem um pátio no interior lindo de morrer, o ambiente estava tão bom e a comida divinal como sempre. Fomos ficando e pedindo mais vinho. A rapariga que nos servia, convidou-nos a ficar para o concerto privado que ia haver dali a uns instantes… algo pequeno e privado. Até que, como observadora que sou, no meio daquela malta que se começava a juntar, vejo o “corredor”, sim, aquele que me elevou o ego algumas horas antes. Estava diferente, mais bonito. Cruzamos olhares e sorrimos…
Puxei conversa com a Joana, e mais uma garrafa de vinho para acompanhar o concerto!
— Então já decidiste o que vais fazer?
— Tenho umas ideias, mas ainda nada decidido!
— Não te deixes ir abaixo, e não pares com os teus objetivos, é só isso que te digo! Se paras, é uma treta e depois vais-te acomodando.
— Acho que para já vou tirar as férias que tanto preciso e nunca tirei e aí vou ter tempo de pensar na minha vida.
— Pois então fazes muito bem, mereces, claro que sim!
Entretanto a rapariga traz a garrafa de vinho e diz:
— Esta está paga ok, fiquem a vontade e divirtam-se!
— Muito obrigada, já que vamos aproveitar o seu convite para o concerto, não há necessidade de uma garrafa de vinho, vocês assim entram em prejuízo.
— Não, não… não foi o restaurante, foi aquele senhor ali! — Apontou.
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